lunedì, giugno 27, 2011

SITIAI-ME 'NO CAMPO ESTRELADO", AFOGADO E SEM O COLO. DE NOSSA SENHORA


Água escorria da bica e ela passava o pano ensa­boado nos talheres. Da janela via-se o muro amarelo [...] Esfregando os dentes do garfo, Lucrécia era uma roda pequena gi­rando rápida enquanto a maior girava lenta — a roda lenta da claridade, e dentro desta uma moça trabalhando como formiga. Ser formiga na luz absorvia-a inteiramen­te e em pouco, como um verdadeiro trabalhador, ela não sabia mais quem lavava e o que era lavado — tão grande era a sua eficiência. Parecia enfim ter ultrapassado as mil possibilidades que uma pessoa tem, e estar apenas neste próprio dia, com tal simplicidade que as coisas eram vistas imediatamente. A pia. As panelas. A janela aberta. A ordem, e a tranqüila, isolada posição de cada coisa sob o seu olhar: nada se esquivava.

Quando procurava outro pedaço de sabão, não lhe ocorreria não achá-lo: lá estava ele, à mão. Tudo estava à mão.

O que era tão importante para uma pessoa de algum modo estúpida; Lucrécia que não possuía as futilidades da imaginação mas apenas a estreita existência do que via. Ah! gritava um pássaro no quintal da loja.

Sem pintura o rosto perdia os vícios de que em ou­tros momentos Lucrécia Neves precisava para se dar certo peso neste mundo. Com o rosto nu, também ela avança­ria se chamassem as criancinhas. Toda iluminada, toda medida pelas duas horas. Ah! cortava o pássaro no quin­tal. No fundo mesmo, ela se julgava uma deusa.

Foi talvez para exprimir sua divindade que a moça parou cansada, enxugando o suor da testa com o braço que segurava o prato.

Passeando o olhar pelo vasto subúrbio ensolarado. Lá estavam as coisas recortadas, e sem sombras, feitas para uma pessoa se aprumar ao olhá-las. Com o prato na mão, seu instrumento de trabalho, gostaria de exprimir talvez à mãe, por exemplo, como sua filha estava... estava...

Olhou um pouco intrigada aquelas coisas iluminadas, ao seu redor, forçando-se agora a exteriorizar, com um pensamento mesmo, o que sucedia fora dela.

Nada acontecia porém: uma criatura estava diante do que via, tomada pela qualidade do que via, com os olhos ofuscados pelo próprio modo calmo de olhar; a luz da cozinha era o seu modo de ver — as coisas às duas horas parecem feitas, mesmo na profundeza, do modo como se lhes vê a superfície. Bem desejaria contar algo dessa claridade a Ana ou a Perseu.

Mas, desamparada, forte, estava de pé. Remoendo sua dificuldade de raciocinar.

Naquela deusa consagrada pelas duas horas, o pen­samento, quase nunca utilizado, primarizara-se até trans­formar-se num sentido apenas. Seu pensamento mais apu­rado era ver, passear, ouvir. Mas seu tosco espírito, como uma grande ave, se acompanhava sem se pedir expli­cações.

E quanto a contar a Perseu o que sucedia — tudo era simples demais, até mesmo estúpido: ela estava ape­nas construindo o que existe. O quê! ela estava vendo a realidade.

Além disso como contar a Perseu ou mesmo conse­guir pensar, se tudo aquilo era feito de coisas das quais se se quisesse pedir a prova... Para mantê-las, era pre­ciso apenas acreditar e mesmo não se dirigir a elas — toda a cozinha era uma visão de lado. Cada vez que se voltasse para o lado, a visão estaria de novo de lado. Era assim que a moça sustentava a iluminação das duas horas — erguendo agora a cabeça a um ruído, e agora correndo através da casa até a varanda, chamada pelo barulho de muitos passos na rua.

E EU QUERIA TER SETENTA E TRÊS, CAMILINHA, APARTES, COM ESTE TEXTO EM MÃOS, DA LISPECTOR, MAS SERIA CONTRADITÓRIO, NA MINHA PRETENSA CONDIÇÃO DE QUEM COMPREENDE O ESCRITO.  PORQUE CELEBRA-SE, A TODO INSTANTE, A SIMPLICIDADE DO QUE NÃO SE PRECISA, NÃO MAIS DO QUE ISTO, VER.

1 commento:

  1. "A vida são golpes, costuras e pontes."

    ... ver simples significa necessariamente ser simples - coisa que não sou, infelizmente. Ou deixei de ser quando ganhei pele.

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CI SIAMO QUATTRO. E LEGGIAMO ASSOLUTAMENTE TUTTO. DOPO TRE O QUATTRO MESI. E CINQUE O SEI BICCHIERI. DI VELENO.