giovedì, novembre 17, 2011

PARA ALÉM DO CIGARRAL DE VESTIDOS DESGARRADOS




Havia um homem que era muito senhor da sua vontade. Andava às vezes sozinho pelas estradas a passear. Por uma dessas vezes viu no meio da estrada um animal que parecia não vir a propósito — um cágado.

O homem era muito senhor da sua vontade, nunca tinha visto um cágado; contudo, agora estava a acreditar. Acercou-se mais e viu com os olhos da cara que aquilo era, na verdade, o tal cágado da zoologia.

O homem que era muito senhor da sua vontade ficou radiante, já tinha novidades para contar ao almoço, e deitou a correr para casa. A meio caminho pensou que a família era capaz de não aceitar a novidade por não trazer o cágado com ele, e parou de repente. Como era muito senhor da sua vontade, não poderia suportar que a família imaginasse que aquilo do cágado era história dele, e voltou atrás. 0uando chegou perto do tal sítio, o cágado, que já tinha desconfiado da primeira vez, enfiou buraco abaixo como quem não quer a coisa.

O homem que era muito senhor da sua vontade pôs-se a espreitar para dentro e depois de muito espreitar não conseguiu ver senão o que se pode ver para dentro dos buracos, isto é, muito escuro. Do cágado, nada. Meteu a mão com cautela e nada; a seguir até ao cotovelo e nada; por fim o braço todo e nada. Tinham sido experimentadas todas as cautelas e os recursos naturais de que um homem dispõe até ao comprimento do braço e nada.
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E PORQUE TAMBÉM EU SOU MUITO SENHORA DAS MINHAS VONTADES (QUE NÃO SÃO, MAIS, POUCAS), GUARDO PARA MIM O RESTANTE DO CONTO - ESPETACULAR.  JÁ NÃO TENDO DE PROVAR A NINGUÉM QUE O LI, MAS CINGINDO-ME TÃO-SOMENTE À HIPOTERMIA QUE, JURA-ME HERR KREMER, HÁ DE ME PRIVAR DE TUDO QUANTO FOR DE SENTIDOS, TARDE DA NOITE, A VELA JÁ CONSUMIDA NO SUPORTE ENCAIXADO NAS BORDAS DA BANHEIRA.  

2 commenti:

  1. Tá frio aí, é?! De quem é o autor do conto?

    saudade apertada

    beijos daqui...

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  2. Li esse trecho e lembrei-me logo de ti.

    "Um homem catava pregos no chão. Sempre os encontrava deitados de comprido, ou de lado, ou de joelhos no chão. Nunca de ponta. Assim eles não furam mais - o homem pensava. Eles não exercem mais a função de pregar. São patrimônios inúteis da humanidade. Ganharam o privilégio do abandono. O homem passava o dia inteiro nessa função de catar pregos enferrujados. Acho que essa tarefa lhe dava algum estado. Estado de pessoas que se enfeitam a trapos. Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser. Garante a soberania de Ser mais do que Ter."

    Manoel de Barros, em Tratado geral das grandezas do ínfimo, 2001.

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CI SIAMO QUATTRO. E LEGGIAMO ASSOLUTAMENTE TUTTO. DOPO TRE O QUATTRO MESI. E CINQUE O SEI BICCHIERI. DI VELENO.