Durante as duas horas daquele convívio desmoronou‑se‑lhe o que restava do castelo inexpugnável em que morara. Nenhuma das muralhas resistia mais. A sua confiança numa ordem natural ruíra. Estava à mercê do puro arbítrio.
‑ Nós, agora.
Ergueu‑se e transpôs, hesitante, a porta do gabinete.
‑ Boa noite ‑ disse, amedrontado.
‑ Boa noite. Mostre‑me os seus papéis de identidade.
Procurou na carteira, nervosamente, estendeu a mão e ficou à espera.
‑ Leonel Ramiro de Lencastre
‑ Exactamente.
‑Engenheiro...
‑ Sim.
‑Donde vem?
‑De Lisboa.
‑Fazer o quê?
‑ Aqui, nada.
‑ Essa agora! Acredita que haja alguém capaz de se deslocar de Lisboa a uma distância destas sem qualquer razão?
‑ Pode ser apenas obrigado a passar por cá, como eu.
‑ Ah! o senhor continua viagem? E para onde?
‑ Rio Torto. Tencionava seguir para lá amanhã de manhã, na carreira.
‑ A quê?
Hesitou. A devassa entrava‑lhe já na alma. A que propósito diria àquele desconhecido a razão íntima e promissora que o levava?
‑ Assuntos particulares...
‑ Que assuntos?
‑ Peço desculpa, mas não digo.
‑ Veja lá se quer complicar as coisas!
Diante da ameaça, a sua timidez alvoroçou‑se. E confessou, no tom e na emoção que daria ao acto no dia seguinte, que ia pedir a noiva em casamento.
‑ Nós, agora.
Ergueu‑se e transpôs, hesitante, a porta do gabinete.
‑ Boa noite ‑ disse, amedrontado.
‑ Boa noite. Mostre‑me os seus papéis de identidade.
Procurou na carteira, nervosamente, estendeu a mão e ficou à espera.
‑ Leonel Ramiro de Lencastre
‑ Exactamente.
‑Engenheiro...
‑ Sim.
‑Donde vem?
‑De Lisboa.
‑Fazer o quê?
‑ Aqui, nada.
‑ Essa agora! Acredita que haja alguém capaz de se deslocar de Lisboa a uma distância destas sem qualquer razão?
‑ Pode ser apenas obrigado a passar por cá, como eu.
‑ Ah! o senhor continua viagem? E para onde?
‑ Rio Torto. Tencionava seguir para lá amanhã de manhã, na carreira.
‑ A quê?
Hesitou. A devassa entrava‑lhe já na alma. A que propósito diria àquele desconhecido a razão íntima e promissora que o levava?
‑ Assuntos particulares...
‑ Que assuntos?
‑ Peço desculpa, mas não digo.
‑ Veja lá se quer complicar as coisas!
Diante da ameaça, a sua timidez alvoroçou‑se. E confessou, no tom e na emoção que daria ao acto no dia seguinte, que ia pedir a noiva em casamento.
ISTO, HOSTILIDADE A NENHUM PROPÓSITO, A VIOLÊNCIA TREMENDA QUE ARRANCA O QUE SE QUERIA GUARDAR PARA SI, VAI PARA CAMILINHA, QUE INDA ACREDITA QUE 'cada pessoa carrega um universo próprio', O QUE JUSTIFICARIA INVESTIDAS CONTRA QUEM NÃO FAZ POR ONDE. GENTE QUE LEVA UMA VIDA DESGRAÇADA E QUE, PORTANTO, NÃO É CULPADA PELO AZEDUME DIÁRIO.
OCORRE QUE EU SOU LEONEL DE LENCASTRE. UMA INGE MASCULINA SEM A FACETA DO QUESTIONAMENTO, DA SUBVERSÃO. UMA INGE QUE SE PRESTA A SURPRESAS E, ELA SIM, ENCERRA, from marrow to pore, GALÁXIA INTEIRA.
(e porque tentar entender os arrabaldes envelhece, o justo é aluar-se. d'ora avante e sempre e tanto.)
"A misericórdia não anula essa vontade má, nem renuncia a combatê-la: ela se recusa a compartilhá-la, a somar ódio a seu ódio, egoísmo a seu egoísmo, cólera à sua violência. A misericórdia deixa o ódio ao odiento, a maldade aos maus, o rancor aos ruins.
RispondiEliminaNão porque estes não sejam verdadeiramente odientos, maus ou ruins (ainda que fossem por
causa deste ou daquele determinismo, como creio, nenhum determinismo poderia anular
aquilo que produz), mas porque o são. Foi o que Jankélévitch percebeu muito bem: “Eles são
maus, mas precisamente por esse motivo devemos perdoá-los – pois são ainda mais infelizes
do que os maus. Ou melhor, é sua própria maldade que é uma infelicidade; a infinita
infelicidade de ser mau."
[Peq. Tratado das Grand. Virtudes]
TREPLICO FRAGOROSAMENTE COM SARTRE:
RispondiEliminaO conceito de inimigo não é completamente certo e claro, a não ser que o inimigo esteja separado de nós por uma barreira de fogo.
E O NEGÓCIO É QUE FOGO HÁ. PORÉM AMIGO.
Sejamos, então, o que nos resta: nós mesmas! Apesar de qualquer coisa.
RispondiEliminamil beijos