venerdì, febbraio 10, 2012

DEPOIS, MAIS NADA


As imaginações que assustam. Pensei numa festa - sem bebida, sem comida, festa só de olhar. Até as cadeiras alugadas e trazidas para um terceiro andar vazio da Rua da Alfândega, este seria um bom lugar. Para essa festa eu convidaria todos os amigos e amigas que tive e não tenho mais. Só eles, sem nem sequer os entre-amigos mútuos. Pessoas que vivi, pessoas que me viveram. Mas como é que se volta da Rua da Alfândega ao anoitecer? As calçadas estariam secas e duras, eu sei.


Preferi outra imaginação. Começou misturando carinho, gratidão, raiva; só depois é que se desdobraram duas asas de morcego, como o que vem de longe e vai chegando muito perto; mas também brilhavam as asas. Seria um chá - domingo, Rua do Lavradio - que eu oferecia a todas as empregadas que já tive na vida. As que esqueci marcariam a ausência com uma cadeira vazia, assim como estão dentro de mim. As outras sentadas, de mãos cruzadas no colo. Mudas - até o momento em que cada uma abrisse a boca e, rediviva, morta-viva, recitasse o que eu me lembro. Quase um chá de senhoras, só que nesse não se falaria de criadas.


- Pois te desejo muita felicidade - levanta-se uma - desejo que você obtenha tudo o que ninguém pode te dar.
- Quando peço uma coisa - ergue-se outra - só sei falar rindo muito e pensam que não estou precisando.
- Gosto de filme de caçada. (E foi tudo o que me ficou de uma pessoa inteira.)
- Trivial, não, senhora. Só sei fazer comida de pobre.
- Quando eu morrer, uma pessoas vão ter saudade de mim. Mas só isso.
- Fico com os olhos cheios de lágrimas quando falo com a senhora, deve ser espiritismo.
- Era um miúdo tão bonito que até me vinha vontade de fazer-lhe mal.
- Pois hoje de madrugada - me diz a italiana - quando eu vinha para cá, as folhas começaram a cair, e a primeira neve também. Um homem na rua disse assim: "é a chuva de ouro e prata." Fingi que não ouvi porque se não tomo cuidado os homens fazem de mim o que querem.
- Lá vem a lordeza - levanta-se a mais antiga de todas, aquela que só conseguia dar ternura amarga e nos ensinou tão cedo a perdoar crueldade de amor. - A lordeza dormiu bem? A lordeza é de luxo. é cheia de vontades, ela quer isso, ela quer aquilo. A lordeza é branca.
- Eu queria folga nos três dias de carnaval, madame, porque chega de donzelice.
- Comida é questão de sal. Comida é questão de sal. Comida é questão de sal. Lá vem a lordeza: te desejo que obtenhas tudo o que ninguém pode te dar, só isso quando eu morrer. Foi então que o homem disse que a chuva era de ouro, o que ninguém pode te dar. A menos que tenhas medo de ficar toda de pé no escuro, banhada de ouro, só na escuridão, mas só na escuridão. A lordeza é de luxo pobre: folhas ou a primeira neve. Ter o sal do que se come, não fazer mal ao que é bonito, não rir na hora de pedir e nunca fingir que não se ouviu quando alguém disser: esta, mulher, esta é a chuva de ouro e prata. Sim.
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AS PRIMEIRAS FOLHAS SEM NEVE, LUXO MAIS QUE POBRE.  ISSO, SIM,  PODE-SE DAR, UNHAS INTEIRAS NA SUA FUNÇÃO ÚNICA DE UNHAS.  AS UNHAS MENOS UNHAS DO QUE QUEREM, MAS RECONHECÍVEIS NA FANTASIA FINA.  DE UNHAS.  NA FANTASIA SEM AS FALHAS DA CORROSÃO PROGRAMADA.

A PROPÓSITO DA COMIDA QUE É QUESTÃO DE SAL, O CORAÇÃO, APAVORADO, ESTÁ A TRINTA E SEIS DIAS DA FALÊNCIA, O POTÁSSIO EM DESCOMPASSO COM O SÓDIO.  BOMBA DE SAUDADE.

E EIS QUE CEDE QUASE TUDO, NUM COLAPSO QUE QUEM  NUNCA PERDEU PONTA DE UNHA RASGANDO NEVE NÃO TEM COMO COMPREENDER.

 

1 commento:

CI SIAMO QUATTRO. E LEGGIAMO ASSOLUTAMENTE TUTTO. DOPO TRE O QUATTRO MESI. E CINQUE O SEI BICCHIERI. DI VELENO.